quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Os Anjos III

No primeiro Post (Os Anjos I), fizemos uma análise de como os persas, sob o Zoroastrismo, viam os anjos. No segundo Post (Os Anjos II), vimos a visão que a Bíblia nos dá do anjo, enquanto mensageiro. Neste terceiro Post, vamos ver outras visões que a Bíblia e outros livros e autores nos dão, dos anjos...

Uma das visões que se tem dos anjos é a de que são guardiões. Podemos perceber isso no Salmo 91:10 (Nenhum mal te sucederá, nem praga alguma chegará à tua tenda.). 91:11 (Porque aos seus anjos dará ordem a teu respeito, para te guardarem em todos os teus caminhos.) e 91:12 (Eles te sustentarão nas suas mãos, para que não tropeces com o teu pé em pedra.).

Outra fonte sobre os anjos são os livros Apócrifos (lembrando: os livros "aceitos" na Bíblia são chamados de Canônicos; os livros que "ficaram de fora" são Apócrifos):

No Livro de Tobias 1:25, que é aceito pelos católicos, mas não pelos protestantes, há essa passagem: e um santo anjo do Senhor, Rafael, foi enviado para curar Tobit e Sara, cujas preces tinham sido simultaneamente dirigidas ao Senhor.

Mas o Livro Apócrifo que mais relatos tem sobre os anjos é o Livro de Enoque (ou Enoch). Nele, o Capítulo 7 faz um relato de como duzentos anjos vieram à Terra, sob a liderança de Samyaza, e "tomaram" mulheres humanas, gerando os gigantes. No Capítulo 8 outro anjo, Azazyel (ou Azazel), ensina os "segredos do céu" aos humanos (sortilégios e astrologia). No Capítulo 9, outros anjos (Miguel e Gabriel, Radael, Suryal, e Uriel), avisam ao Altíssimo o que está acontecendo. No Capítulo 10, Ele ordena que avisem Noé (o filho de Lamech) que a terra perecerá sob as águas, e como ele fará para se salvar. Também ordena que se lance Azazyel no deserto, amarrado, e que os outros anjos (Vigilantes) sejam presos embaixo da terra, levados para as mais baixas profundezas do fogo em tormentos, e presos por setenta gerações.

Por esse relato, você já imagina quem sejam Samyaza (imagem abaixo)e Azazel, não é? E, de certa forma, também saberá mais sobre os Nephalins (ou Nephilins).




Mais adiante, no Capítulo 20, há uma referência aos Sentinelas:

1Estes são os nomes dos anjos Sentinelas:
2Uriel, um dos santos anjos, o qual preside sobre o clamor e o terror.
3Rafael, um dos santos anjos, o qual preside sobre os espíritos dos homens.
4Raguel, um dos santos anjos, o qual inflige punição ao mundo e às luminárias.
5Miguel, um dos santos anjos, o qual, presidindo sobre a virtude humana, comanda as ações.
6Sarakiel, um dos santos anjos, o qual preside sobre os espíritos dos filhos dos homens que
transgridem.
7Gabriel, um dos santos anjos, o qual preside sobre Ikisat, (31) sobre o paraíso e sobre o querubim.
(31) Ikisat. As serpentes (Charles, p. 92; Knibb, p. 107).


Podemos perceber, por estes trechos, que os anjos se dividiram, alguns antagonizando o Altíssimo (Vigilantes), e outros a seu serviço (Sentinelas). Mas eles não se assemelhavam aos humanos, e nem sempre estavam "de acordo"...

No Talmude, os anjos são descritos como "seres de fogo" e o Corão afirma que eles são "seres de luz". Aliás, os muçulmanos não acreditam em "anjos caídos". Segundo a fé islâmica, Malik é o anjo que cuida do Jahannam (Inferno), onde se encontra Shaytan Iblis, um djinn (gênio do mal). O Paraíso é chamado de Jannah.

No Ocidente, quem melhor descreveu os anjos foi São Tomás de Aquino (1225/1274). Tal era sua autoridade sobre o assunto, que ele era chamado de Doctor Angelicus (Doutor Angélico).

Baseando-se nas Escrituras, São Tomás de Aquino dividiu os anjos em três hierarquias e nove coros: "Isaías fala dos Serafins; Ezequiel, dos Querubins; Paulo, dos Tronos, das Dominações, das Virtudes, das Potestades, dos Principados; Judas fala dos Arcanjos, enquanto o nome dos Anjos está em muitos lugares da Escritura".

"Os Anjos são aqueles que anunciam as coisas menos importantes; os Arcanjos, os que anunciam as mais importantes; as Virtudes, por elas se realizam os milagres; as Potestades, pelas quais se reprimem os maus poderes; os Principados, que presidem os próprios espíritos bons".

São Tomás de Aquino afirmava que os anjos eram "criaturas puramente espirituais"...Podiam se manifestar corporalmente, mas eram fruto da inteligência de Deus e não tinham peso, altura e nem cheiro. Não comiam, não bebiam, não se reproduziam, não nasciam e não morriam.

O luterano Jacob Boheme (1575/1624) dizia que eles eram "pensamentos de Deus", com forma humana e desprovidos de asas, tinham boca mas não tinham dentes, pois só comiam dos frutos do Paraíso.

O místico sueco Emanuel Swedenborg (1688/1772) acreditava que, no passado, os anjos haviam sido humanos e mortais, e para onde olhassem, sempre veriam a face de Deus.

O poeta tcheco Rainer Maria Rilke (1875/1926) fecha esse Post com sua frase simples, mas cheia de significados: "todo anjo é terrível"...



Acima: A Queda dos Anjos Rebeldes (1562), de Pieter Bruegel

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