É madrugada...Estou em cima de um prédio, olhando a cidade que dorme, lá embaixo. Tantos sonhos, vários pesadelos, muitas desilusões...A humanidade é um dia de sol ou uma noite de neblina? Acho que estou meio depressiva, só de pensar que tudo poderia ter sido diferente. O que faço aqui, no alto desse edifício, observando a cidade que dorme? Sei que não irei mudar nada, pelo menos não nesse momento. Mas preciso encontrar uma razão em tudo, preciso ter certeza de que minhas decisões foram acertadas, e que as pessoas que amei e/ou amo, estarão a salvo...Se ao menos eu pudesse encontrá-lo...Mas o que diria? "Cá estou, meu amor?" Não, depois de tudo que vivemos e do que ele foi capaz de fazer...Nada seria como antes, e viveríamos a desconfiança dos que já juraram amor eterno e, mesmo assim, o jogaram na lata de lixo...
Talvez eu pedisse perdão...Mas, e o outro? O que eu diria a ele? Como explicar a ferida que me consumiu, de forma a me colocar longe dos meus amores? Quantos eram? Quantos foram? Perdi as contas...Será?
Consigo lembrar como começou? Será que vale a pena tentar? Não sei...
Acho que era outono...Sim, era outono, quando eu o conheci. Lá estava eu, procurando um lugar para me proteger da chuva, quando uma voz macia, porém firme, me chamou. Olhei para a direção da voz e o vi, pela primeira vez, ali, se protegendo embaixo de uma marquise...Não sei porque, mas as regras de segurança me soaram falsas nessa hora e, a despeito de tudo que pudesse pensar, me aproximei...
Algo nele me lembrava a palavra simplicidade e, junto a ela, tranquilidade. Me aproximei e fiquei ali, parada, quieta, apenas olhando a chuva fina de outono cair. Levamos uma eternidade para falar, ou apenas alguns segundos, não sei. Repentinamente, ele perguntou: "por que você veio aqui?"
E eu, como se já soubesse a pergunta, soltei: "precisava saber que esse lugar existe".
"E não tem medo?" A voz era macia, mas as perguntas pareciam querer ferir, ou proteger, quem sabe...
"Não! O medo não me paralisa...Ao contrário, me lança para a frente..."
"É...se não fosse o medo, não teria te conhecido..."
Era o máximo que poderiam ter conversado. Mas parecia o suficiente, para quem procurava alguém, algum conforto, em tudo aquilo....
E ali mesmo, sob aquela chuvinha fina, ela o amou, como se tivesse amado por todo o sempre, mas sabendo que aquilo não apresentava coerência....
Mal sabiam eles que iriam passar por inúmeras aventuras, muito mais do que esperariam...
Continua...